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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Jovem é estuprada para “aprender a ser mulher”

estupro
A estudante de 25 anos, lésbica, relata ter sido vítima de violência sexual em plena via pública em SP; dois homens teriam a abordado na região da Consolação e a forçado a ter relações sexuais com ambos pelo simples fato de ser homossexual; até agora não há suspeitos 
Por Ivan Longo 
Em meio a intensas discussões sobre homofobia e crimes de ódio, principalmente por conta do cenário eleitoral, a intolerância faz mais uma vítima. Uma jovem de 25 anos que preferiu não se identificar relata ter sido vítima de um “estupro corretivo” no último dia 13, em plena via pública e bastante movimentada da capital.
De acordo com a joven, que estuda artes visuais, ela estava caminhando pela avenida Rebouças – como costuma a fazer usualmente – por volta das 22h quando foi abordada por dois homens. Eles teriam desferido palavras de ódio contra a garota pelo fato de ser lésbica. Ela respondeu à altura e os indivíduos a teriam agarrado e realizado um estupro para que ela “aprendesse a ser mulher”.
“Ainda não consegui retornar as minhas atividades práticas cotidianas ou sequer ao normal funcionamento intelectual/cognitivo do meu cérebro”, contou a jovem, mais de uma semana após o ocorrido. Ela informou ainda ter desmaiado durante o ato e acordado sozinha, sem receber ajuda de ninguém.
A estudante, depois de passar por tratamento médico, chegou a abrir um boletim de ocorrência na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) e voltou até o local com dois investigadores da Polícia Civil. Como não encontraram nenhuma câmera de segurança, ainda não há suspeitos.  “Fui com dois investigadores da polícia civil ao local e constatamos que não há câmeras por ali. Os 99% de improbabilidade de encontrar os sujeitos me desestimularam a dar continuidade ao processo criminal, aos encontros estressantes com advogados, legistas e afins”, contou.
Confira o relato da jovem na íntegra:
No sábado 13/09/2014 fui vítima de violência sexual homofóbica, ou estupro corretivo. Ainda não consegui retornar as minhas atividades práticas cotidianas ou sequer ao normal funcionamento intelectual/cognitivo do meu cérebro. Funções como sono e fome foram substituídas por insonia e náusea.
Recebi atendimento exemplar no Hospital Pérola Byington, Centro de referência da saúde da mulher. Lá tive acesso a fármacos preventivos de DSTs, gratuitos, infelizmente o tratamento também é penoso devido a agressividade dos remédios e de seus efeitos colaterais, são 28 dias de retrovirais contra AIDS.
Subia a Rebouças em direção à Consolação, a pé, como sempre faço, sou defensora dos benefícios de uma boa caminhada e da locomoção alternativa. Ao passar pelo viaduto, na ladeira próxima a Praça José Molina, fui abordada por dois indivíduos do sexo masculino que atiravam em minha direção palavras de cunho homofóbico e afirmavam coisas do tipo: “se quer ser homem, vai ser tratada como homem”, mandei-os ir para aquele lugar e que me deixassem em paz. Em seguida fui agarrada por quatro braços e forçada a ter relações sexuais com ambos os indivíduos que agora paradoxalmente bradavam que “me ensinariam a ser mulher”. Claro que as expressões exatas foram eufemizadas pela minha incapacidade psicológica de repeti-las.
Isso aconteceu numa via pública onde passavam automóveis, ninguém ofereceu ajuda, ou quiçá se incomodou. Desmaiei. Quando acordei estava perturbada e foi difícil aceitar o que tinha acontecido. Demorei 24h para poder falar com a minha mãe, mais ainda para falar com outras pessoas.
Agora sinto que é necessário, estimulada pelo discurso homofóbico do presidenciável Levi Fidelix e o apoio que esse tem recebido de pastores e outras personalidades. Fui com dois investigadores da polícia civil ao local e constatamos que não há câmeras por ali. Os 99% de improbabilidade de encontrar os sujeitos me desestimularam a dar continuidade ao processo criminal, aos encontros estressantes com advogados, legistas e afins.
É certo que a impunidade mais uma vez vigorará. Agradeço aos carinhosos amigos que me têm apoiado, também minha mãe que sempre apoiou todos minhas escolhas e é a primeira defensora da minha individualidade! Espero fazer do facebook e do acontecimento plataforma e ferramenta de luta para que não aconteçam mais tais crimes de homofobia!

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