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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

É de brincadeira ou de vera?


Sempre me causou depois de adulto uma preocupação com essa coisa de criança brincando com replicas de arma de fogo. No meu tempo de menino nossas brincadeiras eram o futebol no Campo do Fabril nos fins de tarde e à noite costumávamos brincar de cowboy improvisando revólveres e espingardas com pedaços de madeira. Vez por outra a gente inventava de brincar de luta de capa e espada ao estilo de Zorro, o fidalgo e cavaleiro mascarado dom Diego de La Veja. O brinquedo inocente era feito com aquelas palhas de carnaúba das quais se fazia o cavalo e a espada.
Naquele tempo a violência urbana era um aqui e ali, bem diferente de hoje onde menino nem pense em meter a cara na porta depois das seis da tarde quanto menos sair pela rua em algazarra. E esse negócio de comprar brinquedo em loja e quanto mais brinquedo caro, era coisa que nem dava pra pensar. Mas nós tínhamos, isso coisa de criança, inveja de quem chegasse ao grupo com um revólver daqueles de ferro fundido, da Estrela, dito de espoleta, cabo branco e ainda por cima dentro de um coldre de couro ou até mesmo de plástico. Aquilo, a gente pensava, nunca seria pro nosso bico.
Nós meninos, quando dava, comprávamos desses revólveres ou pistolas de plástico de brinquedo. Mas nós meninos tínhamos consciência de que aquele brinquedo era um brinquedo, e que eu me lembre, nunca passou pela cabeça de qualquer um de nós transformarmos aquele tipo de brinquedo como objeto amedrontador de pessoas pra prática de delito. Porque na nossa ideia de meninos, com família composta de pai mãe, irmãos, havia sempre uma imensa fronteira, um muro muito alto e robusto entre a fantasia e a realidade.
E estes dias eu visitando uma dessas lojas ditas de artigos importados, como costumo fazer de vez em quando aos sábados, estava observando numa prateleira cheia de brinquedos e entre alguns eu encontrei as réplicas perfeitas de pistolas. Cores berrantes, bem amarelas. E me recordo de há temposrecentes o governo ter proibido a indústria de fabricar este tipo de brinquedos assim também como a importação, exposição e venda, salvo se descaracterizado pela cor. Mas fiquei a observar preocupado quem se interessava pelo tal brinquedo.

O que vi não me causou surpresa. Rapazinhos e até adultos observando, testando, envaidecidos com as tais pistolas amarelas, réplicas perfeitas dessas que se vê em posse de policiais. E pela aparência silenciosa e desconfiada deles, longe de parecer preconceituoso, eram meninos e rapazes de periferia. Periferia aonde a violência não respeita ninguém e muito menos criança. Estavam ali enternecidos com aquele brinquedo proibido que, comprado por pouco mais de trinta reais vai, depois de pintado, servir de arma pra intimidar alguém nalguma esquina dessas da cidade ou até consumar um crime de assalto. Aquele brinquedo depois de pintado, nas mãos de uma criança, adolescente e até adulto é mais uma arma na praça.
Paduá Marques 

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